segunda-feira, 20 de outubro de 2025

RINEMAS COMO FRASILHAS PERIFÉRICAS DA LINGUAGEM: UMA INTERPRETAÇÃO LINGUÍSTICO-ECOSSISTÊMICA

RINEMAS COMO FRASILHAS PERIFÉRICAS DA LINGUAGEM: UMA INTERPRETAÇÃO LINGUÍSTICO-ECOSSISTÊMICA 
 Hildo Honório do Couto
Universidade de Brasília 

1. Introdução 
Os dois termos básicos do título, “rinema” e “frasilha”, são neologismos desconhecidos nos estudos linguísticos brasileiros. Por esse motivo, eu começo dando uma ideia inicial do que eles vêm a ser, deixando a explicação detalhada para a seção seguinte. O termo “frasilha” é uma tradução de phrasillon do francês, no sentido de palavra-frase, como se vê em Tesnière (1959, p. 94-95). A versão portuguesa foi proposta em Couto (2023a). Sobre a forma francesa phrasillon, o Larousse online diz que é “synonyme de mot-phrase” (sinônimo de palavra-frase). O Petit Robert não registra o termo. Quanto a “rinema”, está sendo proposto aqui pela primeira vez, a despeito do fato de o que ele designa ocorrer com relativa frequência em diálogos informais do dia a dia das pessoas. Um primeiro exemplo que poderia ser dado aqui é ?m1hm2, que frequentemente substitui a reposta “sim” em diálogos informais e/ou familiares. A despeito de serem neologismos, “rinema” e “frasilha” são vocábulos possíveis, ou seja, apenas estão inativados.
 =>Além dos rinemas, existem muitas outras formas de expressão que fogem do padrão lexicogramatical do português, a exemplo das de caráter proxêmico, cinésico e paralinguístico, que não só têm nome como têm sido investigadas até certo ponto. Os estudos proxêmicos começaram com Hall (1966); os cinésicos, que incluem a mímica, com Birdwhistell (1968); a paralinguagem, com Trager (1958). Além disso, existem as interjeições e as onomatopeias, que excepcionalmente foram objeto de alguns estudos, sobretudo as primeiras, incluídas em algumas gramáticas tradicionais como parte das exclamações (COUTO; COUTO, 2023). As onomatopeias foram investigadas por Couto, Silva & Albuquerque (2024). No Apêndice se pode ver um quadro que tenta classificar rinemas, onomatopeias e interjeições. Esse quadro mostra ainda que as interjeições, como os rinemas, são frasilhas (palavras-frase), frases compactadas que substituem locuções e ou orações plenas. 
=> Eu não encontrei nenhum artigo acadêmico em português dedicado ao que estou chamando de rinema. Pelo título da Gramática do português falado do Projeto NURC em 8 volumes, era de se esperar que contivesse estudos sobre ele, pois falas se dão em diálogos, nos quais ele ocorre com relativa frequência. É verdade que umas duas centenas de exemplo aparecem nos diversos capítulos da seção “Organização Textual-Interativa”, presente em todos os volumes. No entanto, apenas em umas cinco páginas e meia de um texto de 32, de Hudinilson Urbano, no volume VII (2002, p. 206-211), se encontram comentários sobre ah, ahn, ahn ahn, hem?, uhn, uhn uhn, uhn. Porém, e como em todos os capítulos dos 8 volumes, o objetivo quase único é a gramática. Em vez de “fala”, “réplica” ou “turno”, fala-se sempre em “texto”. Mesmo da perspectiva gramatical, não levaram em conta a sintaxe dialogada (SLAMA-CAZACU, 1982), espécie de sintaxe interturnos, ou sintaxe interlocucional, por oposição à sintaxe sistêmica ou textual. A explicação é que, como talvez acima de 80% da linguística ocidental, veem a língua como instrumento de comunicação, com o que a reificam, pois instrumento é uma coisa, como o pai da ecolinguística, Einar Haugen, havia dito já na década de 1970 (HAUGEN, 2016, p. 59). 
=>Pode até ser que exista algo publicado, mas eu não consegui encontrar nada. Uma exceção é 2tsip1!, conhecido como muxoxo. Sobre ele se pode encontrar algum ensaio publicado, mesmo que ele se interseccione com as interjeições, expressando desagrado, pouco caso etc. Mas, mesmo esse pouco que existe publicado sobre ele frequentemente enfatiza a etimologia, sugerindo ou afirmando que tem origem no quimbundo. =>Na seção 7 abaixo apresentarei alguns exemplos de rinemas ingleses com respectivos significados e sugestão de equivalentes em português. Aliás, em inglês existem menções sobre o de que falo aqui há várias décadas. A partir dos trabalhos em análise da conversação eles começaram a ser investigados em mais profundidade. Assim, Schegloff (1982) fala especificamente de uh huh (equivalente de ?m1hm2) e assemelhados que ocorrem “entre sentenças” na interação comunicativa. Jefferson (1984) e Schegloff & Jefferson (1984) também analisam mm hm e yeah. Alguns anos depois, já fora da análise da conversação, vieram Gardner (1998), Ward (2006) e Yax (2024). Este último trabalho não é um artigo no formato acadêmico propriamente dito, mas parece confiável, pois foi elaborado por uma professora que ensina como pronunciar bem o inglês. 
=>Diante do exposto, um dos meus objetivos é propor um termo para designar essas expressões vocais não verbais/lexicais que podem ocorrer nas interações comunicativas, sobretudo em situações informais, familiares, íntimas. Trata-se de expressões como as do português e do inglês já mencionadas. Mas, o objetivo maior deste ensaio é apresentar uma lista dessas expressões e tentar explicá-las no contexto da linguística ecossistêmica, mais especificamente, seu papel nos atos de interação comunicativa, nos fluxos interlocucionais (COUTO, 2015, 2018).
 
 2. Nomeando o fenômeno e explicando o nome 
=>Como já antecipado na Introdução, rinema é um tipo especial de frasilha (palavra-frase), diferente de outras como as interjeições prototípicas e alguns marcadores/operadores conversacionais, tanto por sua sonoridade quanto por seu papel na interação comunicativa, no fluxo interlocucional. Não é por acaso que Ward (2006) os chama de “non-lexical conversational sounds” (sons conversacionais não lexicais). =>Eu não encontrei na literatura linguística, nem mesmo na especificamente fonética, nenhum termo para designar expressões como as que estou chamando de rinema. Baseado no fato de quase todos os exemplos que serão investigados aqui serem proferidos com a boca fechada e o ar saindo pelo nariz, como em ?m1hm2, considerei o vocábulo “rinema” o mais apropriado pelo fato de combinar a palavra rhis/rhinós (nariz) do grego com o sufixo ema, muito comum em termos técnicos linguísticos, como fonema, morfema, semema e alguns até de outras áreas, como categorema. Existem uns poucos casos de rinemas com o ar saindo adicionalmente pela boca como 1?ãhã2 que, por sinal, é uma forma alternativa para ?m1hm2. Mas, como na maioria dos casos o ar sai apenas pelo nariz, ou pelo menos adicionalmente por ele, considerei o vocábulo “rinema” como o termo técnico mais apropriado, mesmo havendo algumas exceções não nasalizadas, como o exemplo (3) da lista abaixo. Rinema é um neologismo fonética, morfológica e vocabularmente aceitável, pois está formado por regras sistêmicas amplamente dominadas pelos usuários da língua (COUTO; COUTO, 2023). 
=>É claro que dar nome a determinado fenômeno não é explicá-lo cientificamente. Porém, se quisermos falar dele, cientificamente ou não, é necessário que tenhamos alguma forma de nos referirmos a ele. Referir-se a um fenômeno, designando-o, é lexicalizá-lo, criar uma etiqueta, um nome para ele. Do contrário, teríamos que usar longos circunlóquios. 
 => Se expressões como ?m1hm2 e 1?ãhã2 ocorrem com relativa frequência, mesmo que seja em situações informais, não podem ser simplesmente ignoradas por quem pretenda apresentar uma “gramática” completa do português, ou seja, todas as frases formáveis pelas regras-regularidade (SÉRIOT, 1986, p. 143) que subjazem aos atos de interação comunicativa, à comunicação. O mesmo vale para a morfologia e a fonética-fonologia. 
=>Reportando-se a algo que Ray Birdwhistell lhe disse, Roger Wescott afirmou que “nós não conseguiremos compreender inteiramente a evolução humana se não prestarmos a mesma atenção que prestamos às partes moles do corpo como prestamos às duras”. Por isso, “dificilmente entenderemos a comunicação humana em sua inteireza se não aprendermos a valorizar as partes ‘moles, quentes’ (soft, warm) da língua tanto quanto as frias e duras” (cold, hard) (WESCOTT, 1976, p. 508). Por outras palavras, só entenderemos a linguagem humana em sua integralidade se tratarmos não apenas do que é formalizável, como têm feito os estudos gramaticais desde a antiguidade e como tem feito a linguística moderna (estruturalista, gerativista etc.). É preciso encarar a língua em sua inteireza, holisticamente, como é vista pela linguística ecossistêmica (FINKE, 1996; TRAMPE, 1990; STROHNER, 1996; COUTO, 2015). 
=>Um dos especialistas mais recentes que se debruçaram específica e exclusivamente sobre os rinemas, Nigel Ward, disse: “esses sons menos comuns têm sido deixados de lado. Quatro questões básicas não têm sido formuladas. Primeiro, porque existe essa variedade de sons; segundo, o que eles significam; terceiro, o papel deles na comunicação; quarto, seu status cognitivo” (WARD, 2006, p. 3). Todas essas perguntas aguardam respostas e o presente ensaio é uma tentativa de dar uma resposta pelo menos parcial a algumas de suas manifestações no português brasileiro. 

 3. Exemplos de rinemas 
 =>Passemos aos rinemas que consegui inventariar. Não é tarefa nada fácil transcrever os dados, uma vez que neles ocorrem sons que não são usuais na língua portuguesa, contrariamente ao que assevera Ward (2006) para o inglês. Um tipo de frasilha frequentemente confundido com os rinemas, as interjeições, se constituem de sons normais do português, embora frequentemente violem seus padrões silábicos (CV, CVC, CCV etc.). Não é para menos que muitas gramáticas tradicionais e os próprios linguistas ignorem não só os rinemas, mas até mesmo as interjeições, a despeito do fato de ocorrerem com relativa frequência nos diálogos entre os falantes. Vejamos os exemplos, adiantando que certamente existem outros. Só a continuidade da investigação poderá dizer se falta algo, e o que falta. 
=>A lista abaixo contém 21 exemplos de rinemas. Alguns deles se interseccionam com as interjeições, como 1eein2?! / 1?eein2?! (8) e o clique 2tsip1!, conhecido como muxoxo. Estatisticamente, e como tipos, pode até ser que sejam muito poucos, mas como ocorrências são bastante frequentes em atos de interação comunicativa. Devido às dificuldades de transcrição e aos matizes finos de sentido, deve haver muitos outros exemplos além desses 21. É preciso dar continuidade à investigação, como veremos mais abaixo. (1) 1ã2? / 1?ã2? = como?, não entendi!, repita o que você disse! (2) 3ã2 /3?ã2 = sim, entendi, continue (3) 2 aa1 / 2?aa1 = ah, bom!; agora entendi (19, 20) (4) 3aa1 / 3?aa1/ = que pena! (contém também acepção interjetiva, mas é reação a algo dito) (5) 1ãhã2 / 1?ãhã2 = sim (6) 2ã?ã1 / 2?ã?ã1= não (7) 1ein2? / 1?ein2? = como?, não entendi! (8) 1eein2?! / 1?eein2?! = como assim?, não parece! (9) 1èè2 / 1?èè2 = não há outra alternativa, né? (10) 3èèè1 / 3?èèè1= tá certo!; o que você disse parece ser verdade (11) 1èè3? / 1?èè3? = é isso mesmo que você está dizendo? Que estranho? (12) 3hã?3 = é verdade? não acredito! (13) 1mhm2 / ?1mhm2/= sim (sinônimo de (4)) (14) m2?m1/?m2?m1 = não (sinônimo de (5)) (15) 3?mm1 = pode ser; quem sabe? (16) 1?m2? = e aí?; como vai ser? (17) 3h?mm1 = empatia, simpatia e certo entusiasmo pelo que foi ouvido (18) 1m1! = sinal de dúvida (19) 3m2 / 3?m2 = sim, entendi, continue (2, 20) (20) 3~2 /3?~2 = sim, entendi, continue (2, 19) (21) 2tsip1! (clique > muxoxo) = sinal de discordância, aborrecimento, insatisfação, enfado diante do visto ou ouvido. 

 => 3?aa1 = Já lavei a louça (marido); 3?aa1 = que bom! (esposa). 

 =>A primeira parte do exemplo 20 (3~2) consta de som nasal, com a boca aberta e tom alto a médio. A segunda parte (3?~2) é o mesmo rinema, iniciado por oclusão glotal, forma alternante da primeira, provavelmente com mais ênfase. 
 =>Os exemplos a seguir não são rinemas propriamente ditos, pois sua função é ganhar tempo para planejar a continuidade da fala. Seu significado é textual, não diretamente interacional ou referencial. Se contêm algo de interacionalidade é indiretamente, devido ao fato de indicarem que o falante está ganhando tempo para continuar formulando o que pretende dizer ao ouvinte. Eles receberam vários nomes, tais como fillers (preenchedores) e muitos outros. Como os rinemas de (1) a (21), eles podem ocorrer com ou sem oclusão glotal (?) inicial. (22) 1ââ1-1?ââ1 /1?ââ1-1?ââ1 = preenchedor (filler), sinal de hesitação durante a fala (23) 1èèè1 /1?èèè1 = preenchedor (filler), sinal de hesitação durante a fala. 

4. Significantes e significados dos rinemas 
=>Usando “significante” para som e “significado” para sentido, podemos notar que há muitas dificuldades para se estudarem os rinemas, tanto fonética quanto semanticamente. Às vezes é difícil até mesmo saber se o que aparentemente é um novo rinema é apenas variação fonética de um outro. É o caso, por exemplo, da presença ou ausência de oclusão glotal (?). Em ?m2?m1 (não) ela ocorre no início e no meio da expressão, mas pode ocorrer também só no meio, como na forma alternativa m2?m1. Uma hipótese a ser investigada é se a presença de oclusão glotal no inicio representa ênfase. Dos dois exemplos para “não”, o segundo parece ser mais enfático. 
 => Para um estudo aprofundado dos rinemas são necessários conhecimentos finos de fonética articulatória e acústica. Os símbolos fonéticos disponíveis que poderiam ser usados são bastante complexos, a ponto de requererem o uso de softwares especializados, que vão além dos da Associação Fonética Internacional (AFI) e dos criados pelo Summer Institute of Linguistics (SIL), contrariamente ao que afirma Ward (2006). Por isso, uso apenas símbolos disponíveis nos processadores de texto mais conhecidos, com um pouco de explicação verbal. Essa maneira de representar os rinemas está longe do ideal, mas, para efeitos práticos, creio que é suficiente, pois este estudo é incipiente, e seu objetivo principal é mostrar que os rinemas fazem parte da língua portuguesa. Entre os sons que compõem os rinemas temos a aspiração [h], a oclusão glotal [?] – representada pelo sinal de interrogação –, a presença da consoante bilabial nasal como núcleo de sílaba (como vogal), como em [?m1hm2/hm1hm2?] e [m2?m1/?m2?m1], e até cliques, a exemplo do muxoxo 2tsip1, além dos componentes suprassegmentais já mencionados: tom, entoação, acento etc. 
=>Mais do que os sons/fonemas que os compõem, os rinemas se distinguem basicamente pelo tom, o acento, a aspiração, a oclusão glotal, a quantidade vocálica (vogal longa ou breve) e até por cliques. Sem entrar muito na técnica fonética de transcrição dos sons, utilizo os índices 1, 2 e 3 para tom baixo, médio e alto, respectivamente; para a oclusão glotal, o símbolo ?, exceto no final do rinema em que ele é sinal de interrogação mesmo. Ocorre ainda a aspiração (h), que tampouco faz parte do inventário fonológico do português. Há transição entre os tons: alguns exemplos apresentam tom ascendente, outros apresentam-no descendente e outros, finalmente, podem ser planos. A aspiração também pode ocorrer no início ou no meio do rinema. 
=>Já vimos que os sons são pronunciados normalmente com a boca fechada e o ar saindo pelo nariz. Existem também rinemas, como ?ã1hã2 (sim), ?ã2?ã1 (não) e 1ã2? (não entendi), em cuja prolação o ar sai também pela boca, mas a nasalidade está sempre presente. Ela é um dos fatores mais relevantes, embora haja algumas exceções como ?2aa2 (entendi; ah, bom!), nas quais o ar sai apenas pela boca. Deve-se notar que em todos esses exemplos em que não há nasalidade trata-se da vogal que Roman Jakobson chamou de compacta, com o canal bucal inteiramente aberto [a, ã] (JAKOBSON; HALLE, 1956). Enfim, [a] é a vogal por assim dizer universal. 
 =>No que tange ao significado, os rinemas são altamente polissêmicos. Eles apresentam alta variabilidade de acepção semântica, manifestada por alterações na configuração fônica. Para entender isso é importante distinguir significado e sentido. Significado é a significação vista da perspectiva da comunidade de língua que, no caso dos itens lexicais normais da língua, está consignado nos dicionários. É uma significação básica, ou significado sistêmico, aplicável a diversos casos, com diversas acepções. O sentido é constituído pelos usos que emergem nos atos de interação comunicativa. Quase como direção que a palavra toma na interlocução, portanto, é o significado interlocucional. 
=>O rinema 3?aa1, excepcionalmente sem nasalidade, tem também valor interjetivo, pois, de alguma forma, é uma exclamação com o sentido de “que pena!”, “estou estarrecido”, “não acredito!”, “é verdade?”, “sério?” (COUTO; COUTO, 1993). Porém, não deixa de ser uma reação (resposta) a um estímulo (pergunta ou informação) como a dada pelos demais rinemas. Esse exemplo mostra que na verdade não há uma separação rígida entre as categorias que estabelecemos para estudar a linguagem e para as categorias em geral. Como disse André Martinet, as categorias linguísticas resultam do que conseguimos captar da realidade fora da linguagem, realidade que, como sabemos, é infinitamente muito mais ampla e complexa do que a linguagem. Nas palavras dele, “cada língua organiza à sua maneira os dados da experiência, e por isso aprender uma língua nova não consiste em colocar novos rótulos em coisas conhecidas, mas sim em habituarmo-nos a analisar doutro modo os objectos das comunicações linguísticas” (MARTINET, 1964, p. 7-8). Podemos acrescentar que cada língua representa um recorte que os membros da comunidade fizeram na realidade extralinguística, é o que eles conseguiram perceber, identificar e denominar, como mostrado na ampulheta de lexicalização (COUTO, 2021, p. 67-70). É o de que precisam para se comunicarem entre si. 
 =>A maioria das palavras da língua tem mais de um sentido, é polissêmica. Em Diário de um escritor, Dostoievski fala sobre seis operários bêbados que discutiam entre si, todos usando o mesmo palavrão, mas com “acento apreciativo”, e “entonação expressiva”. Nas palavras do próprio Dostoievski, “assim, sem pronunciar uma única outra palavra, eles repetiram seis vezes seguidas sua palavra preferida, um depois do outro, e se fizeram compreender perfeitamente” (apud BAKHTIN, 1981, p. 132-134). Trata-se de um ótimo exemplo de como o sentido das palavras emerge nos atos de interação comunicativa, partindo de um significado básico, às vezes até violando-o.
 =>Gardner (1998) e Ward (2006) dizem que os rinemas – mesmo não usando esse termo – não se reportam ao assunto da conversa em que entram. Traduzido em termos linguístico-ecossistêmicos, eles têm significado interacional, contrariamente às demais frasilhas em que se incluem, que no geral têm significado referencial. 

5. Os rinemas no fluxo interlocucional 
=>Vejamos o lugar dos rinemas em pequenos fluxos interlocucionais, sobre os quais se pode ler Couto & Couto (2023). Nota-se que os rinemas são sempre reação a algo afirmado ou interrogado. Se forem reação a uma pergunta, pertencem ao nível 2, como nas duas primeiras réplicas de (a); se reação a uma afirmação, podem ser de nível 3, como no exemplo (b). Tudo isso em princípio, pois afirmação e pergunta podem ocorrer ao longo de todo o fluxo, o que significa que também os rinemas podem emergir em níveis posteriores a 3, a exemplo do final de (b). Sempre que houver uma pergunta ou uma afirmação de um interlocutor, o outro pode reagir com um rinema. Na representação do fluxo interlocucional, sigo a sugestão de Saussure de usar A e B para os dois interlocutores, além de F para falante, O para ouvinte além dos índices 1, 2, 3 etc., para indicar em que nível do fluxo interlocucional se encontra a fala. Os fluxos interacionais a seguir mostram que ein? pode ter pelo menos três acepções, no terceiro caso com o e mais longo

(a) 
A-------B 
F1  → O1: Este carro é um Fiat? 
             |
O2 ← F2: 1ein2? (não entendi a pergunta) 
|
 F3 → O3: Este carro é um Fiat? 
              |
O4 ← F4: 1ãhã2 ou m1hm2 (sim) 

 (b)
 A-------B
 F1 → O1: O Bolsonaro elogiou o Lula 
               |
O2 ← F2: 1eein2? (como assim?, não acredito no que você está dizendo)
|
 ………… 

(c) 
Ele pode ser solicitação de repetição de uma asserção, por não ter sido entendida:
 A------B 
F1 → O1: Este carro é novo 
              |
O2 ←  F2: 1ein2? (não entendi o que você disse)
 |
F3 → O3: Este carro é novo 
            |
O4 ← F4: Ah, bom, mas não parece!
| 
 ……….. 

 No caso de reação a uma pergunta, trata-se de perguntas despropositadas, pois de certa forma a pergunta já sugere algum tipo de resposta, como no fluxo a seguir: 

 A------B
 F1 → O1: O Bolsonaro elogiou o Lula?
            |
O2 ← F2: 1eein2? (como assim?, não acredito que você está fazendo essa pergunta) 
|
………… 

 =>Semelhantemente à cena narrada por Dostoievski, também no caso presente é possível haver pequenos diálogos constituídos inteiramente de rinemas. Numa situação em que dois amigos estão diante da porta da sala de um chefe mal-humorado, e eles precisam falar com ele, pode haver o seguinte diálogo: 

 A -----B 
F1 → O1: 1m2? (e aí, você vai entrar?, apontando para porta com a cabeça) 
           |
O2 ← F2: 1mm1! (não sei não!)
| 
F3 → O3: 3h?mm1 =(eu entendo porque você duvida se vai entrar ou não) 

 =>Vimos que os rinemas têm a ver diretamente com o próprio processo interlocucional, com a dinâmica da interação entre falante e ouvinte, ou seja, a comunicação, contrariamente às interjeições, que estão no lado significação, por serem parte das exclamações, que expressam a relação entre falante e as realidades de que ele fala, ou seja, a referência. Por isso, às vezes podem ser expressas por orações completas. Repetindo, os rinemas têm como base o significado interacional, ao passo que nas interjeições a base é o significado referencial. Os rinemas ocorrem no próprio núcleo da linguagem, a interação pessoa-pessoa, a comunicação, e se relacionam com a referência apenas indiretamente. As interjeições ocorrem diretamente na interação pessoa-mundo, a referência, e apenas indiretamente entram na comunicação. Elas são um “tipo de comunicação mais reduzido, em que só entra em jogo o locutor”, como em ai! e que pena!” (POTTIER, AUDUBERT, PAIS, 1975, p. 107). As onomatopeias parece estarem entre um e outra. Em Couto, Silva & Albuquerque (2024) há um pormenorizado estudo sobre elas (ver Apêndice).
=>A reação (resposta) que os rinemas dão a um estímulo, pergunta ou asserção, pode ser positiva ou negativa. As únicas exceções aparentes são os rinemas que se imbricam com as interjeições, como 1ã2?, 1ein2? e 3?aa1. As duas primeiras solicitam a repetição de uma pergunta exclamativamente. Mesmo assim, é uma pergunta, mesmo que sob a forma de outra pergunta, uma repergunta. A terceira normalmente não pressupõe nenhuma outra reação, pois expressa simplesmente decepção e desagrado de B frente a algo dito por A. 

6. Rinemas, interjeições, preenchedores e marcadores conversacionais 
=>Os autores que falaram sobre rinemas no âmbito da língua inglesa, mesmo sem usar esse nome, não os distinguiram das interjeições nem dos chamados “marcadores/operadores discursivos” e/ou “marcadores/operadores conversacionais”. É o caso do tantas vezes aqui citado Nigel Ward. Aliás, ele falou também das interjeições, mas pondo-as no mesmo balaio que os rinemas (WARD; WARD, 2019). Na verdade, muitas interjeições parecem ter algo de rinemático, assim como alguns rinemas têm algo de interjetivo. Isso acontece porque ambos são frasilhas, ou seja, palavras-frase, frases comprimidas, no sentido supramencionado de Lucien Tesnère (ver Apêndice). Existem ainda os preenchedores (fillers), expressões usadas pelo falante para ganhar tempo na organização do que vai dizer e para sinalizar ao ouvinte que ainda não vai lhe passar o turno. Como eles têm a ver diretamente com o desenrolar do enunciado (texto, frase, sintaxe) vários capítulos da Gramática do português falado contêm muitas referências a eles. Enfim, rinemas, interjeições, preenchedores e marcadores conversacionais compartilham vários traços, mas cada um deles tem suas especificidades. Quanto às interjeições, a mera enumeração dos rinemas na seção 3 deixa entrever algumas de suas intersecções com eles. O presente artigo se concentra apenas nos rinemas. A propósito, vale a pena dar uma olhada no quadro do Apêndice no final deste artigo, em que entram ainda as onomatopeias. Nunca é demais frisar que os rinemas são primariamente interacionais, pertencem ao domínio das interações ecossistêmicas pessoa-pessoa, e só secundariamente referenciais (interações pessoa-mundo), ao passo que as interjeições são primariamente referenciais e só secundariamente interacionais. Aliás, as onomatopeias também se enquadram nesse último caso (COUTO, SILVA, ALBUQUERQUE, 2024). Os “marcadores/operadores discursivos”, como o próprio nome já sugere, são primariamente textuais, se enquadram na categoria da metafunção textual de Halliday (2014). Esse assunto foi parcialmente discutido em Couto & Couto (2023). Pelo menos os exemplos a seguir são rinemas-interjeições. -1ein2?/1?ein2? = como?, não entendi! -1èè2 = não há outra alternativa, né? -3èèè1 = tá certo!; o que você disse parece ser verdade -1eein2?! = como assim?, não parece! -2?aa1 = sim; entendi; ah, bom! -3?aa1 = que pena!, estou muito decepcionado. 
 =>Uma diferença fundamental entre rinemas e interjeições é o fato de os primeiros serem reação ao que foi perguntado ou afirmado, logo, são parte integrante dos atos de interação comunicativa. As interjeições, por seu turno, são exclamações, manifestações de espanto, desagrado, alegria como satisfação-resposta a algo constatado, uma asserção ou uma pergunta. É uma manifestação súbita do que o indivíduo sentiu. =>Ao contrário do que disse Nigel Ward para os rinemas ingleses, comparativamente às palavras do léxico português consignadas nos dicionários e/ou ativadas nas interações comunicativas entre os falantes, os rinemas são pouco numerosos. Se fôssemos levar em conta apenas a estatística, eles seriam efetivamente irrelevantes. No entanto, quando observamos os diálogos reais que se dão no dia a dia das pessoas, eles ocorrem com relativa frequência. Por isso não podem ser ignorados por uma teoria que olhe para a língua em sua inteireza (holisticamente) e essencialmente da perspectiva da interação comunicativa, como é o caso da linguística ecossistêmica (COUTO, 2015, 2018).
 
7. Rinemas ingleses 
=>Em inglês têm sido feitas menções esporádicas a rinemas há muito tempo, mas, é nos estudos sobre análise da conversação que eles começaram a ser tratados com maior profundidade científica. Já em Sacks, Schegloff & Jefferson (1974) se veem diálogos em que aparecem alguns rinemas, porém, não há nenhum comentário especificamente sobre eles. Quanto a Schegloff (1982) e Jefferson (1984) não só apresentam exemplos como os comentam. Mais recentemente, Gardner (1998), Ward (2006) e Yax (2024) se debruçaram sobre os rinemas ingleses, apresentando vários exemplos e interpretando-os. Incluem até mesmo a pronúncia em arquivo de áudio. Gardner (1998) e Ward (2006) estão publicados em revistas acadêmicas, mas Yax (2004) está disponível apenas na internet, no site Yax Accent, dedicado a dar dicas sobre a pronúncia do inglês americano. É um bom trabalho e está disponível em https://www.yaxaccent.com/magazine/sounds-americans-make-in-conversation =>Eis os exemplos apresentados por Yax, com a definição e a pronúncia dadas por ela. A representação gráfica da autora está mantida, assim como sua numeração. Incluo uma sugestão de equivalentes aproximados em português, de acordo com a numeração dos exemplos da seção 3. 1.HMM (tom alto a baixo). Equivalente português: número (15) supra. “Em geral usado para mostrar que se está ligado na conversa e revelar interesse no tópico e uma propensão para continuar ouvindo”. 2.Mm- hmm (segundo som alto). Equivalente: (12) “Um sim afirmativo ou uma maneira informal de dizer ‘você está certo’”. 3.Uh- huh (acento na segunda sílaba). Equivalente aproximado: (9), talvez. “Som neutro que não revela envolvimento ou interesse. Se dito em um tom baixo lento pode ser visto como rude, pois é uma maneira de mostrar que a conversa é trivial, maçante e você deseja que ela se encerre”. 4. Unh-unh (acento nos dois sons). Equivalente: (9) e, talvez, mais o de número (5) “Esse som significa “não”. É uma resposta não lexical a questões básicas” 5. Nyaoo-hao (alto, depois baixo). Aparentemente, não tem equivalente português. “Significa “em hipótese alguma” geralmente devido a surpresa’. 6.Nyeah (tom baixo). Talvez equivalha a “tá, mas…..” “Cuidado com esse exemplo. Ele é diferente de “yeah”. Os americanos geralmente o usam para se sobreporem à fala do outro, para fazê-lo parar de falar”. 7.Ya-huh (tom alto). Não encontrei equivalente. “Sim afirmativo quando alguém se mostrou surpreso ou incrédulo”. 8.Mm - hmm (os dois com tom baixo). Se aproxima de (12). “Os americanos usam este som durante a conversa para deixar o falante continuar e mostrarem que não desejam fazer comentários”. 9. Mmmm (alongado). Equivale a (2). “O ouvinte entende o falante, mas fica neutro e não mostra se concorda ou não”. 10. Uh-oh. Não há equivalentes. “Semelhante a oops, reconhecendo um equívoco”. As equivalências são meramente aproximadas, pois há diferenças culturais que afetam tanto o significante quanto o significado do rinema. Assim, o equivalente brasileiro (15) do exemplo 1 de Yax (HMM) tem ainda uma conotação de algo como “empatia, simpatia e certo entusiasmo pelo que foi ouvido”. O exemplo 2 de Yax tem um significado quase igual ao brasileiro de número (12), que apresenta as formas alternativas com e sem oclusão glotal, além de ser proferido um pouco mais lentamente. Além disso tem o de número (4) como sinônimo. A negação, número 4 da autora (Unh-unh), tem uma configuração fonética bastante diferente da forma brasileira (13). Enfim, é um assunto interessante, que valeria a pena ser investigado mais a fundo, inclusive comparativamente. Um problema adicional com esses rinemas ingleses é a representação gráfica. Geralmente ela se encontra bem distante do que seria uma transcrição fonética. 

8. Observações finais 
=>Eu gostaria de acrescentar um tipo de expressões tidas como periféricas que antigamente ocorriam com muita frequência nas fazendas de grupos familiares. O processo avassalador da globalização e do agronegócio está levando ao desaparecimento da relação íntima que havia entre humanos e animais domésticos. Havia uma interação diuturna entre os humanos e as diversas espécies de animais com que conviviam, tais como bovinos, suínos, equinos, galináceos e outros. Em alguns núcleos familiares mais tradicionais, ainda deve haver resquícios dessa interação, que era feita com sons e combinações de sons que nem sempre fazem parte do português. Em Couto (1995, 2021, p. 97-108) há um pequeno apanhado sobre essa linguagem. =>As expressões usadas nessa comunicação humano-animal, em geral como ordens e chamamentos, não são rinemas nem interjeições ou onomatopeias. São expressões usadas por falantes de variedades de português brasileiro, embora sejam periféricas e muitas vezes desconhecidas dos habitantes das cidades. Porém, são importantes, pois, como mostrado nos dois estudos recém-mencionados, pode se tratar de “universais da comunicação”, como me foi dito pelo falecido especialista em fonética-fonologia articulatória John Ohala, em comunicação pessoal. O estudo delas pode lançar alguma luz sobre o estudo das onomatopeias e dos rinemas. =>Por fim, por serem de cunho informal, íntimo, típicos da linguagem infantil, o uso de rinemas em diálogos menos informais e com desconhecidos pode ser interpretado como desconsideração, menosprezo, desinteresse pelo que está sendo discutido. Porém, e como mostrado pelos analistas da conversação, nas interações comunicativas do dia a dia eles podem trazer mais vivacidade à discussão, tornando-a menos formal e mais viva. 

Referências 
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COUTO, Hildo Honório do. A comunicação humano-animal numa fazenda de Minas Gerais. Cadernos de linguagem e sociedade v. 1, n. 1, p. 40-48, 1995. 
COUTO, Hildo Honório do. Linguística ecossistêmica. ECO-REBEL v. 1, n. 1, p. 47-81, 2015. https://periodicos.unb.br/index.php/erbel/article/view/9967/8800  
COUTO, Hildo Honório do. Contato interlinguístico: da interação à gramática. Brasília: PPGL/UnB, 2a ed., p. 2017 (1a edição, PPGL/UnB, 1999). Disponível em: https://www.ecoling.unb.br/images/E1.pdf 
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COUTO, Hildo Honório do. Frasilhas, 2023a. Disponível em: https://meioambienteelinguagem.blogspot.com/2023/08/frasilhas.html 
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COUTO, Hildo Honório do; COUTO, Elza Kioko N. N. do. Por uma gramática ecossistêmica do português brasileiro. ECO-REBEL v. 9, n. 3, p. 4-50, 2023b. https://periodicos.unb.br/index.php/erbel/article/view/50278/38177 
COUTO, Hildo Honório do; SILVA, Anderson Nowogrodzki da; ALBUQUERQUE, Davi Borges de. Onomatopeias braileiras: uma visão linguístico-ecossistêmica. ECO-REBEL v. 10, n. 1, p. 56-70, 2024. https://periodicos.unb.br/index.php/erbel/article/view/52503/39483 
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YAX, Morgan Worden. Sounds Americans make in conversation. Yax Accent (YA), 2024. Disponível em (acesso em 09/02/2024): https://www.yaxaccent.com/magazine/sounds-americans-make-in-conversation   

APÊNDICE 
Exclamações, onomatopeias e rinemas 
 Exclamações Onomatopeias Rinemas (1) Complexas (2) Simples (1a) Oracionais (1b) Frasais / Locuções interjetivas (2a) Interjeições vocabulares (2b) Interjeições prototípicas Quantos peixes você pegou! A estrada é estreita! Como é estreita a estrada! Aquela vista é linda! Vai à puta que pariu! Vai tomá no cu! Não enche o saco! Puta que pariu! Deus me livre! Deus te ouça! etc. (A maioria das orações afirmativas e interrogativas pode ter uma versão exclamativa) Quanto peixe! Pelo amor de Deus! Que estrada estreita! Que cara idiota! Que vista linda! Meu Deus! Quem dera! (Também) pudera! Alto lá! Nossa senhora! Puta merda! Puxa vida! Cruz credo! etc. Alá! Basta! Bis! Bravo! Calma! Caramba! Caralho! Credo! Cuidado! Droga! Fora! Fui! Jesus! Misericórdia Nossa! Porra! / Pô! Puxa! Socorro! Tadinho! Tomara! Vaza! Viva! Vixe! etc. ã? Ah! Ai! Chi!/Chhh! Eba!/Epa! Eco!/Eca! Ei! Eia! Eita!/Eta! Fiu fiu Ih! Ix/ixi! Òh! Ôh! Oba! Opa! Psit!/Psiu! Uai!/ué!/uê! Uhu! Ui! etc. Atchim Au au Bafafá Béé Blablablá Buaá Catapimba Chuá Cocoricó créu Glu glu Miau Muu Pá Pá pum Patati patatá Piu piu Pocotó Pum Ra ra rá (riso) Tatibitate Tchibum Tic tac Tintim (1,2) Tititi Toc toc Vapt vupt Vrum/vum Zum zum etc. 1ã2? 2?aa1 3?aa1 2?ã?ã1 1ââ1-1ââ1 1ein2? 1eein2?! 1èè2 3èèè1 1èèè1 3hã?2 1?ãhã2 2h?mm1 hm1hm2 3?mm1 ?m2?m1 2tsip1! (muxoxo)

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Frases de Conceição

 

Frases de Conceição Maria de Jesus

Hildo Honório do Couto - UnB 

 1) Ele enrola o rabo, senta em cima e fala do rabo dos outros.

 

2) a)Muito trovão é sinal de pouca chuva > b) Muito peido é sinal de pouca bosta.

 

3) Pensou que fez uma bicha e fez uma bicheira.

 

4) Você jurou e fez tenção de me enterrar é no sertão.

 

5) Você tá juntando dinheiro para ter um enterro bonito.

 

6) Por mais torto que seja o pé tem sempre um chinelo velho pra ele.

 

7) Não há nada como um dia atrás do outro.

 

8) Tudo que passa sobra.

 

9) Amanhã o carneiro perde a lã.

 

10) Você tem cada uma que parece duas.

 

11) Caiu feito um saco de bosta.

 

12) Ei mininu tarado! (bobo).

 

13) Eita homi fresco! (cuca fresca, tranquilo demais).

 

14) O Hirdo é mandrião (quando ela pedia para pegar um frango, ele sempre ficava num lugar limpinho, e mandava os irmãos correr no meio dos espinhos, do mato e dizendo que quando o frango passasse por perto dele ele pegava).

 

15) Ficá transando pra lá e pra cá no meio da casa (ficar zanzando para lá e prá cá).

 

16) Do mamando ao caducando

 

Palavras

1)cascabulho

2)munha

3)transar

4)mandrião

5)fresco

6)tarado

Frasilhas

 

FRASILHAS

 

Hildo Honório do Couto

Universidade de Brasília

 

A palavra ‘frasilha’ não se encontra nos dicionários de língua portuguesa nem nas gramáticas. Mas, é um conceito necessário para abrigar uma série de palavras que funcionam como uma frase, as palavras-frase. Frasilha foi usada em português pela primeira vez em Couto & Couto (2023, p. 39). Trata-se de uma tradução do termo phrasillon de Lucien Ternière, que o utilizou alternativamente a palavra-frase, mot-phrase em francês (TESNIÈRE, 1959, p. 94-95). Ele aplicou o termo às exclamações, inclusive as interjetivas, e outras categorias de palavras que ele considerou frases comprimidas, ou seja, palavras-frase.

Como se pode ver já no título de seu livro, o objetivo de Tesnière era o estudo da sintaxe que, grosso modo, é o estudo de combinações de palavras formando frases e de morfemas formando palavras. Ele não chegou a entrar em uma descrição fonológica propriamente dita. Ele salientou que as gramáticas tradicionais deixavam as interjeições de fora, por não conseguirem incluí-las em nenhuma das categorias de palavras que reconheciam, tais como substantivo, verbo, adjetivo, advérbio, conjunção e preposição. Para ele isso se deveu ao fato de as interjeições não constituírem uma categoria de palavras à parte. Elas seriam palavras-frases, ou seja, frasilhas. O primeiro exemplo que ele aduz é o equivalente francês de ai!, “que equivale a uma frase inteira”. Acrescenta que algumas dessas interjeições “podem até mesmo expressar estados de alma e de espírito mais matizados e tão complexos que dizem por si sós mais do que uma frase inteira”. Assim, uma expressão como e aí!, que não tem nada a ver com ai!,  é muito mais expressiva do que as frases inteiras equivalentes como (1) e (2). 

 

(1) E agora, o que vamos fazer? (como de uma situação complicada)

(2) Como você tem passado? (como cumprimento informal)

 

Parece que os falantes encurtaram a expressão justamente para dar mais vivacidade ao que querem dizer. E mais, economizando tempo, sem muitos rodeios, sem muito palavreado que não agregaria nada ao que pretendem dizer ao ouvinte.

Tesnière acrescenta que quase todas as frasilhas “são organismos anquilosados, expressões estereotipadas”, “são palavras inanalisáveis”, motivo pelo qual “do ponto de vista da sintaxe estrutural, elas não apresentam nenhum interesse”. Ainda em sua opinião, “quanto mais primitiva for uma língua, mais chance ela tem de ser constituída de palavras-frase ainda inarticuladas sintaticamente”. É o caso de alguns “símios superiores” que podem ter até “18 articulações que têm uma significação diferente, mas que não passam de palavras-frase sem uma verdadeira organização gramatical”. Porém, essas expressões  “podem ser analisadas semanticamente”. A frasilha jesus!, por exemplo, significa algo como ‘por que aconteceu isso?’ ou ‘o que é isso!?’.

O autor diz que as frasilhas podem não ter sintaxe interna, mas são semanticamente bastante expressivas. “Por terem uma carga semântica, as palavras-frase provêm historicamente de palavras plenas anteriores: o aïe! francês vem do latim popular *adjuta; je! vem de Jesus”. “Às vezes elas descendem historicamente de pequenas frases ou, pelo menos, de elementos de frases ou de grupos de palavras: o francês oui! (sim) vem do francês antigo oil, que vem do latim hoc illum. “O francês non! (não) vem do latim *ne oinom ‘não um’ (TESNIÈRE, 1959, p. 95).

Isso pode acontecer até com algumas onomatopeias (p. 96). Aliás, Saussure já havia dito que expressões tidas como onomatopaicas em francês, como fouet (chicote) e glas (dobre de sinos), provêm de palavras comuns do latim: fouet vem de fagus (faia) e glas de classicum, que dispensa tradução. O contrário, onomatopeia se tornar palavra comum da língua, também pode ocorrer. É o caso do pipio latino, que se transformou na palavra pigeon (pombo) (SAUSSURE, 1973, p. 82-83). Isso ocorre às carradas nas onomatopeias inglesas e/ou nas palavras icônicas, de aparência onomatopaica, como se pode ver nos diversos ensaios dedicados às onomatopeias em revistas em quadrinho e nos mangás. O texto de Roger Wescott “Alolinguística: explorando as periferias da linguagem” contém um apanhado geral dessa questão na língua inglesa (WESCOTT, 1976).

Passemos ao estudo de alguns casos de frases que se comprimiram e de expressões originalmente interjetivas, onomatopaicas e outras já comprimidas e seu equivalente em frase inteira. Um primeiro exemplo que vem à tona é a expressão eis x, que está para algo como aqui está (o que você pediu, ou qualquer outra coisa). Trata-se de uma frasilha que requer um complemento. Tesnière comentou o equivalente francês que, no caso, são duas formas: voici e voilà, algo como eis aqui e eis lá. Eis provém da forma latina ecce, muito conhecida na expressão bíblica Ecce homo (aqui está o homem – Jesus). A forma francesa provém de formas plenas que combinam alguma forma do verbo voir (ver) com ici, num caso,  e com (lá/aí), no outro. É uma palavra-frase parcial, pelo fato de requerer complemento. Em francês existem ainda formas como celui-ci (este aqui) e celui-là (aquele lá/aí).

Uma outra frasilha de natureza verbal é cadê? A forma original plena seria algo como O que é de x?, no sentido de onde está x? Como eis, cadê exige um complemento, como, por exemplo, em Cadê o João?, que significa Onde está o João? Essa forma plena evoluiu para quede?, que, por sua vez, evoluiu para quedê?, que evoluiu para cadê? Por dissimilação do e inicial do e tônico final (dissimilação ocorre em outros casos, como aribu por urubu, em algumas regiões rurais, levando às três vogais prototípicas a-i-u). A forma mais comum é cadê?, mas quede? e quedê? ainda podem ser ouvidas, em alguns contextos. A forma quede? pode ter surgido nas regiões em que a preposição “de” é pronunciada como [di/dži] e cadê onde ela é [de]. É claro que se trata de uma hipótese. 

A exclamação/interjeçião tadinho! (e o feminino tadinha!) é também uma palavra-frase, uma frase comprimida, ou seja, uma frasilha. A origem primeira é coitado!, que deu origem ao diminutivo coitadinho. Como a sílaba inicial coi– é átona, caiu, como acontece em muitos outros casos como acabou que pode ocorrer como cabô. Entendi pode virar tendi, por brincadeira. E assim por diante. É bom lembrar que coitado não tem nada a ver com coito (ato sexual), mas com coita, que na literatura trovadoresca medieval significava sofrimento, no caso, de amor. Como se vê no Aurélio, coitado é particípio passado do verbo coitar, que tem a variante coutar, que, por sua vez, tem a ver com o substantivo couto (origem do meu sobrenome), de significado “terra coutada, privilegiada; Lugar onde se podiam asilar os criminosos, onde não entrava a justiça do rei”. Significava também “terra onde era proibida a caça”, mas apenas pelo público em geral. Ainda segundo o Aurélio, o particípio coitado significa “desgraçado, mísero, pobre, infeliz”. Enfim, coitado resume tudo isso, exprimindo algo que em uma frase plena seria algo como “Eu tenho muita pena dele/dela!”

-Olá! = Forma de saudação/cumprimento que significa algo como Como vai você?, Como tem passado?, Bom dia/tarde/noite? Tem havido diversas sugestões de etimologia. Algumas relacionam a expressão ao hola espanhol, ao allô francês, que estaria ligado ao hello inglês, o heil alemão (como em heil Hitler!) e até ao húngaro hallom (eu estou escutando). Parece o alô que dizemos ao atender o telefone. São todas etimologias não muito confiáveis.

-Alá! = forma comprimida de olha lá!, por síncope do [a] medial (olh’lá), fusão de lh e l, dando olá, a partir do qual houve assimilação do o átono inicial ao á tônico final. Parece ainda não estar dicionarizada. O apresentador de televisão Faustão a usa frequentemente.

Certa feita eu estava com minha filha de cerca de dois a três anos no zoológico. Na nossa frente o que se via parecia ser apenas um gramado e algumas pedras. De repente, uma das “pedras” se moveu e ela exclamou: au au! Para ela tudo que mexia era bicho e todo bicho era au au. Por isso ela exclamou porque ficou admirada ao perceber que o que pensava ser algo inerte e imóvel na verdade era um bicho, ou seja, um au au em sua linguagem. Com essa frasilha o que ela quis dizer era: Aquilo é um bicho, não uma pedra!

Como se pode ver na teoria dos atos de fala (AUSTIN 1997; SEARLE, 1972), a maioria das frases deixa algo não expresso, com o que apresenta algum grau de compressão. Vejamos as frases de (3) a (6).

 

(3) Você trouxe o livro?

(4) Eu trouxe o livro

(5) Traga o livro amanhã!

(6) Eu os declaro marido e mulher

 

Em (3) está faltando a contextualização, ou deixização, incluída em (3)(a). Em (4) está faltando o conteúdo de informação, incluído em (4)(a). Em (5) está faltando a ordem, como se vê em (5)(a). Quanto à declaração feita por um padre ou um pastor vista em (6), ela não pressupõe nada. Trata-se de uma situação em que o dizer é o fazer. O ato de dizer é o ato de realizar.

 

(3) (a)[Eu pergunto a você se] você trouxe o livro

(4) (a)[Eu informo a você que] eu trouxe o livro

(5) (a)[Eu ordeno a você que]traga o livro amanhã

 

A resposta a (4) implica mais dois elementos considerados frasilhas por Tesnière. Com efeito, a resposta poderia ter sido como se vê em (7)(a) ou (7)(b), em caso de ser afirmativa, e (8)(a) ou (8)(b) para resposta negativa. A alternativa (7 )(a) é comprimida, logo, uma palavra-frase (Sim). Se a resposta for negativa, (8)(a) é também forma comprimida, palavra-frase (Não). 

 

(7) (a)Sim,  7(b)Sim, eu trouxe o livro

(8) (a)Não; 8(b)Não, eu não trouxe o livro

 

Se a pergunta for formulada em forma negativa e a resposta for afirmativa, o francês (9) e o alemão (10) dispõem de uma terceira alternativa de resposta.

 

(9) Est-ce que tu ne vas pas au cinéma? (Você não vai ao cinema?)

(9) (a)Si, je vais au cinéma (eu vou ao cinema)

(10) Gehst du nicht ins Kino (você não vai ao cinema?)

(10) (a)Doch, ich gehe ins Kino (sim, eu vou ao cinema)

 

Tesnière chama as frasilhas sim, não, talvez, além do si e o doch alemão de frasilhas anafóricas, pelo fato de reportarem a uma pergunta anterior. Nos termos da psicolinguista romena Tatiana Slama-Cazacu, tratar-se-ia de exemplos de sintaxe dialogada, que leva a uma sintaxe mista (SLAMA-CAZACU, 1982).

 

Uma terceira alternativa de resposta a (7)(a)-(b) em português seria a que se vê em (11), mediante a palavra talvez, que não é sim nem não.

 

(11) Talvez eu vá ao cinema

 

No espírito da proposta de Lucien Tesnière, alguns advérbios de lugar, tempo e modo também seriam frases comprimidas, palavras-frase, sobretudo de olharmos para a etimologia e o significado. Segundo os etimologistas, a palavra aqui vem do latim vulgar accu hic, com significado semelhante: accu, por seu turno, viria de ecce + hunc, acusativo singular de hic. Agora vem de hac hora (esta hora). Hoje tem por etimologia o latim hodie que, por sua vez vem de hoc die (este dia) (ARNAULD; LANCELOT, 1803, p. 329). Poderíamos acrescentar como cuja origem é quo modo, que vem vem de ad hic. Ou seja, todas essas frasilhas de alguma forma vêm de expressões mais complexas (frases).

Como mostrou Tesnière e no espírito da Grammaire générale et raisonnée de Arnauld e Lancelot, independentemente dessas etimologias polêmicas, por trás ou subjacente a todas essas frasilhas temos algo complexo:

-aqui = em este lugar

- = em esse lugar

-agora = em esta hora

-hoje = em este dia

-assim = de este modo, de esta maneira

-como = de este modo/de que modo?

No âmbito das preposições também se pode falar em palavras-frase.Cunha (1970, p. 377-378), por exemplo, apresenta 17 preposições simples essenciais e 14 acidentais. Levando em conta apenas as essenciais – as acidentais são palavras de outras categorias que eventualmente exercem a função de preposição –,  ele alinha ainda 44 preposições complexas, chamadas de locuções prepositivas. Ora, locução é outro nome para frase, no sentido de combinação de palavras. Portanto, pelo menos as seguintes preposições simples podem ser consideradas palavras-frase ou frasilhas pelo fato de seu significado poder ser expresso também por locução prepositiva (frase):

-sobre = em cima de

-em = dentro de

-sob = debaixo de/embaixo de

-após = depois de/em posição posterior a (do latim ad post)

Até alguns advérbios podem ser vistos como frasilhas, a começar dos espaciais, temporais e modais recém-vistos. Poderíamos acrescentar vários outros, mas, no momento basta acrescentar dois exemplos:

-antes = em posição anterior a

-dentro = em a posição interior de (do latim de intro)

Para terminar, gostaria de salientar que praticamente todas as exclamações interjetivas (locuções interjetivas, interjeições vocabulares, interjeições prototípicas) são frases comprimidas, ou seja, palavras-frase, frasilhas, como se pode ver em Couto & Couto (2023, p. 40). Esse ensaio discute não apenas as exclamações e interjeições, mas também as onomatopeias e outros modos de expressão que as gramáticas tradicionais ignoram, por os considerar periféricos. Como vimos acima, muitas onomatopeias podem ser usadas exclamativamente, como o au au de minha filha. Tudo isso justifica a proposta do termo ‘frasilha’ e uma investigação dos exemplos que ilustram a categoria. 

 

Referências

ARNAULD; LANCELOT. Grammaire générale et raisonnée de Port Royal. Paris: Imprimerie de Munier, 1803.

AUSTIN, J. L. How to do things with words. Cambridge: Harvard University Press, 2ª ed.,

15ª impressão, 1997.

COUTO, Hildo Honório do; COUTO, Elza Kioko N. N. do. Por uma gramática ecossistêmica do português brasileiro. ECO-REBEL v. 9, n. 3, p. 3-50.

https://periodicos.unb.br/index.php/erbel/

CUNHA, Celso. Gramática do português contemporâneo. Belo Horizonte: Bernardo Álvares, 1970.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 5ed., 1973.

SEARLE, John R. What is a speech act? In: Giglioli, P. Paolo (org.): Language and social

Context. Harmondsworth: Penguin Books, p. 36-54, 1972.

SLAMA-CAZACU, Tatiana. Structura dialogului: Despre “sintaxe dialogată I. Studii și cercetări lingvistice XXXIII, n. 4, p. 301-321, 1982

TESNIÈRE, Lucien. Éléments de syntaxe structurale. Paris: Klincksieck, 1959.

WESCOTT, Roger. Allolinguistics: Exploring the peripheries of speech. The Second  LACUS Forum. Columbia, SC.: Hornbeam Press, p. 497-513, 1976.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

O componente proxêmico da linguagem


 O COMPONENTE PROXÊMICO DA LINGUAGEM1

Hildo Honório do Couto

Universidade de Brasília



1. Introdução1

Contrariamente ao que afirma a tradição idealista e metafísica desde Platão, passando pelo racionalismo cartesiano, até Chomsky e seguidores, partirei do ponto de vista segundo o qual linguagem é um meio de comunicação. Com isso parece ficar implícito que a linguagem é basicamente a língua. Devo esclarecer, no entanto, que considero como linguagem todo e qualquer meio de comunicação, contrariamente ao que se lê em (COUTO 1983: 68-73). Por outras palavras, hoje defendo a concepção segundo a qual todo e qualquer conjunto de signos que permitem a interação social é linguagem. Assim sendo, vejamos o que vem a ser  comunicação.

De um ponto de vista bastante geral, pode-se dizer que comunicação é o processo pelo qual um emissor (E) envia uma mensagem (M) a um receptor (R). Fica implícito que M será decodificada por R. Caso contrário, a comunicação não foi eficaz, não se realizou. Para que a M enviada por E a R seja eficaz, ou seja, para que R decodifique a informação contida em M, é necessário que E e R compartilhem o código ou linguagem, na qual ela foi formulada. Ora, a situação normal de comunhão de um código é a que se dá entre indivíduos pertencentes à mesma comunidade, mesmo quando um deles (ou ambos) tenha(m) emigrado para o contexto de outra comunidade. Trocado em miúdos, para se entender o processo de comunicação é imprescindível que se leve em conta o contexto em que ela se dá, ou seja, a comunidade a que pertencem os interlocutores. Com efeito, dois indivíduos só comungam do mesmo meio de comunicação se pertencem à mesma comunidade, mesmo que eventualmente um deles, ou os dois, se encontre(m) fora dela. Os indivíduos que não pertencem a ela só se comuicam com seus membros se adquirem seus hábitos de interação, se aprendem sua linguagem. Com isso, de certa maneira passam a fazer parte dela. Em síntese, a comunicação só se dá entre indivíduos que comungam os hábitos interacionais de uma comunidade.

Uma das conseqüências do que ficou dito acima é que, de um ponto de vista apenas sincrônico, comunidade (C) é um todo cujas partes componentes principais são (a) um agregado de pessoas que vivem e interagem em (b) um território e que, portanto, (c) têm interesses comuns. A presença de (a) e (b) é condição necessária, mas não suficiente, para a existência da comunidade. Com efeito, algumas pessoas podem se juntar em um espaço por razões meramente físicas, naturais. Um bom exemplo disso é o elevador, onde uma meia dúzia de pessoas se vêem juntas de modo inteiramente casual, sem que haja nenhum vínculo entre elas. Os indivíduos ficam ansiosos, olhando para os números luminosos que indicam o andar a que se chegou. Assim que podem, pulam fora, como se quisessem livrar-se de uma situação incômoda, pois a ausência de um vínculo, de algum interesse comum, isto é, de uma linguagem, torna a situação incômoda.

Um outro exemplo de aglomeração "em resposta a uma determinada condição ambiental" é dado por Thomas A. Sebeok. Trata-se dos carros que vão se aproximando um do outro ao chegarem ao perímetro urbano. Nesses casos temos uma mera agregação cinética. Um outro exemplo do mesmo autor é a agregação tropista, como no caso dos bichos-de-seda que "tendem a procurar as regiões de máxima umidade; uma vez localizadas tais áreas, para lá se vão eles e se agregam" (SEBEOK 1973: 17-18). Enfim, para que um agregado de indivíduos em determinado espaço constitua uma comunidade é necessário que os interesses comuns (c) incluam padrões de comportamento aceitos pelo grupo inteiro, o que não é necessariamente o caso desses dois tipos de agregação. Esses padrões são, ao fim e ao cabo, linguagem. Isso é o mesmo que dizer que os interesses comuns no caso da comunidade humana são essencialmente sociais, ao passo que os eventuais interesses comuns existentes na agregação cinética e na agregação tropista são detereminados por fatores físicos, naturais.

É bem verdade que muitas espécies de animais irracionais apresentam padrões gregários até mesmo superiores à agregação cinética e à tropista, como é o caso do acasalamento, da família e da manada (bando, rebanho, cardume, etc.) (cf. SEBEOK 1973: 18). Esses três últimos tipos de agregação já se aproximam bastante do que entendo aqui por comunidade. Ou seja, aqui os interesses comuns (c) não se restringem aos determinantes estritamente naturais. Pelo contrário, nesses tipos de agregação, já entra muito do cimento de uma comunidade humana: a socialidade. E aqui temos a palavra chave para qualificar a comunidade humana frente às agregações animais, ou seja, a vida social, rigidamente orientada por padrões de comportamento coletivamente aceitos. Um agrupamento de pessoas em um território constitui uma comunidade quando os indivíduos que o compõem estão unidos entre si por uma linguagem, isto é, padrões de comportamento.

A questão é que a linguagem (o conjunto dos padrões de comportamento) de uma comunidade é muito complexa. A maior parte de seus componentes está em (c), ou seja, nos interesses comuns. É o caso da língua (linguagem humana oral, inclusive suas traduções visuais, táteis, etc.), da paralinguagem (TRAGER 1964), da mímica, das linguagens visuais, etc2  Portanto, distingo linguagens (com minúscula) e Linguagem (com maiúscula), doravante L. Por L entendo o conjunto de todas as linguagens, ou códigos, que subjazem ao comportamento dos membros de uma comunidade. L é o conjunto de convenções que orientam o comportamento do indivíduo qua membro de uma comunidade. É tudo aquilo que a comunidade criou e/ou denominou em sua práxis diária de produção dos meios de subsistência. L é o que outros chamam de cultura. Eu mesmo chamei o conjunto de todas as linguagens de uma comunidade, isto é, tudo aquilo que em C tem significação e que portanto serve de meio de comunicação entre seus membros, de "macro-código cultural" (COUTO 1981). Portanto, sempre que eu usar o termo "Linguagem" (com maiúscula) ou L, entenda-se aquilo que em outros contextos se chama cultura.

Um pressuposto importante subjacente a tudo que se diz aqui é que há relações íntimas entre Linguagem e comunidade. Com efeito, pela definição de comunidade recém-vista, verifica-se que L faz parte de C. Daí se conclui que não existe C sem L nem L sem C. Do ponto de vista sincrônico, elas se pressupõem mutuamente. No entanto, diacronicamente C precede L, pois são os membros de C na práxis social da luta para produzir os meios de subsistência que produzem L. Enfim, tanto L em geral quanto as linguagens específicas, inclusive a língua, são produzidas pelo homem no processo de interação diária. A Linguagem é, portanto, um produto de trabalho passado, no sentido de ROSSI-LANDI (1975, 1985). No entanto, ela é também atividade, trabalho presente, ou seja, interação, comunicação. Além disso, a Linguagem apresenta também um aspecto de futuridade. É através dela que a comunidade como um todo e seus membros individualmente fazem projetos para o futuro.

Vê-se, portanto, que L e C estão inextricavelmente imbricadas uma na outra. Ao abstrairmos L a fim de estudá-la separadamente fazemo-lo apenas para efeitos operacionais. Deve ficar claro a todo momento da análise que tanto L como um todo quanto suas partes componentes são fenômenos sociais, comunitários, uma vez que L é parte de C, sobretudo sob a forma sociedade, que é a totalidade formada por (a) agregado de pessoas e (c) interesses comuns ou L.

Encarando C como foi feito acima, ou seja, como constituída de (a), (b) e (c), verifica-se que L deve fazer parte de (c), é um dos ou o mais importante interesse(s) de C. Mas, se é verdade que L e C se imbricam de modo inextricável como acabei de afirmar, pode-se conjeturar se não há alguma manifestação de L em (a) e (b) também. No momento, ignorarei a possível existência de um componente semiótico embutido em (a). Atenho-me a (b), ao território. Ou seja, pretendo explorar o uso que a comunidade faz dele como fenômeno de representação de valores sociais (significações sociais) e de comunicação. Em suma, pretendo explorar o uso social do espaço no contexto da comunidade. A disciplina que se ocupa do uso social do espaço é a proxêmica, por oposição à cinésica, que trata da comunicação pelos movimentos (cf. ECO 1974: 396-399)3.



2. O espaço social em duas comunidades        

Nesta seção eu vou analisar os aspectos proxêmicos da comunicação, isto é, o uso social do espaço em duas comunidades, a de uma família rural brasileira e a comunidade do quilombo dos Palmares. O objetivo é salientar a importância dos aspectos proxêmicos de L, ou seja, em que medida e em que sentido o espaço intermedia a interação social, como a comunidade se utiliza dele para se estruturar e para funcionar. Antes, porém, gostaria de salientar que o uso social do espaço não foi descoberto agora e muito menos é ele restrito ao homem. Pelo contrário, há muito tempo isso já era sabido pelos investigadores do comportamento animal, os etólogos. Segundo Thomas A. Sebeok, o uso que os animais fazem do espaço é conhecido pelo nome de territorialidade desde 1920 (SEBEOK 1973: 14)4.

Entremos, assim, na análise dos dados, começando pela família rural brasileira. Trata-se de uma família residente em uma fazendo do município de Patos de Minas (MG), a cerca de 10 quilômetros de Capelinha do Chumbo (hoje chamada Major Porto). Deixando de lado o ambiente construído, de que falarei mais abaixo em termos gerais, nota-se que os membros dessa família sentiram necessidade de nomear acidentes do seu ambiente natural que a um estranho pareceriam insignificantes5. No entanto, como constituem uma mini-comunidade, apresentam as características de toda C, aí incluída a necessidade de uma linguagem específica que não só a identifique frente às demais mini-comunidades da região mas também que sirva para orientar o comportamento de seus membros espacial e socialmente. Como sabemos, não há L sem C nem C sem L.

No centro da comunidade em questão está a casa com frente para o nascente, tendo do lado norte o curral, o paiol de milho e o chiqueiro. A noroeste fica o quintal. Isso quanto à parte do ambiente construído, da "arquitetura" local. No que tange ao ambiente natural temos, circundando a fazenda, a "Serra do Parmital" e o "Corgo da Capivarinha" (sul), "Capelinha do Chumbo" e o "Corgo das Batata" (norte), "Horizonte Alegre" - também chamado de "Tavares" ou "Os Tavar"  (leste) - e "Serra da Roxa" (oeste). No caminho que leva a Capelinha do Chumbo os membros da comunidade em questão nomeiam, primeiramente, a "Lagoa dos Miguel", em seguida a sede do "Jeromo Abacaxi" (Jerônimo Abacaxi), assim conhecido por vender essa fruta. Logo a seguir, passam pelo "Mato Seco", pela "Barriguda" (uma velha paineira), pelo "Morro de Pedra", pela "Cruizinha" (=cruzinha), pela "Catiara" (já na entrada de Capelinha do Chumbo e um verdadeiro bairro dela), pelo "Cimintero" (=cemitério). Finalmente, temos o centro de Capelinha do Chumbo.

Com exceção dos pontos do caminho que leva da fazenda a Capelinha do Chumbo, talvez se possa enquadrar tudo que foi mencionado acima no objeto da macro-toponímia. Com efeito, todos os acidentes nomeados são de conhecimento geral, quase oficial, servindo de baliza até mesmo para as autoridades do governo demarcarem distritos ou limites de fazendas. No entanto, a família em questão distingue aspectos do ambiente físico que não teriam a menor importância para os forâneos, para quem não é membro da família, mas que são de importância vital para ela, pois servem como pontos de referência. Para se identificarem como uma mini-comunidade dentro de uma  comunidade maior, os membros dessa família têm que ter uma L própria, específica que ao mesmo tempo oriente o comportamento de seus membros espacialmente.

 Além dos macro-topônimos recém-referidos, de domínio geral na região circundante da fazenda, há outros acidentes físicos do ambiente natural, desconhecidos dos que não residem na fazenda, que receberam um nome e aos quais eu chamei de micro-topônimos (COUTO 1983: 118). Assim, o "Ispigão" é um espigão situado em um ponto extremo da fazenda, a sudoeste. Sua importância está não só em ser ponto extremo, mas também no fato de que quando uma rês (boi ou vaca) ou "animal" (cavalo ou égua) vai para lá fica difícil encontrá-lo, pois é o último lugar a que se vai. A "Lagoa" fica dentro da fazenda e recebeu um nome por ser também um ponto extremo, do lado nordeste. É o lugar mais retirado da "casa". Nos fundos da casa passa um pequeno córrego que deságua em outro maior que vem "lá do Nadim", isto é, da fazenda do Nadim (apelido de Leonardo Miranda). Nenhum dos córregos tem nome. No entanto, quando os membros da família querem se referir a um deles dizem o "Nosso Corgo", ou "Nosso Corguinho", por oposição ao "Corgo do Nadim". O pedaço da fazenda situado no ângulo formado pelos dois córregos é também "Ispigão". Quando se deseja fazer distinção entre este e o espigão anterior, diz-se "Ispigão do Nadim" e "Ispigão do Quinca" (nome do fazendeiro vizinho desse lado da fazenda). Temos ainda o "Oi d'Água" (=Olho d'Água), a nascente de "Nosso Corgo". Aparentemente essa fonte não tem a menor importância, mesmo porque logo acima dela está um bosque imponente, muito mais chamativo. No entanto, o "Oi d'Água" é um lugar onde as crianças brincam, daí o fato de esse nome ser usado mais por elas. Além do "Corgo do Nadim" está a "Capuera", bosque imponente situado no caminho que leva ao "Josia" (Josias) e para o "Nego", dois fazendeiros vizinhos e parentes dos membros da família em questão. Note-se que o nome dos proprietários passou a designar também o espaço ocupado por eles e suas famílias, isto é, sua fazenda.

Na face leste da casa há umas árvores que também chamam a atenção dos membros da família do "Zé Artino" (ou "Zé do Artino"), isto é, José, filho do senhor Altino. Trata-se de dois ou três pés de "Binga", árvores grandiosas que cobrem o sol nascente e têm esse nome por produzirem uma semente cuja casca se assemelha a uma binga, isto é, isqueiro. Menos significativa parece ser uma pequena árvore sita ao lado das "Binga", ou seja, a "Arvinha". Certamente ela recebeu um nome por ser um lugar para brincar muito apreciado pelas crianças (cf. COUTO 1983: 118-120).

Como se viu, nada é gratuito. Todo micro-topônimo tem uma função no contexto da mini-comunidade, que é a orientação do comportamento, no caso orientação espacial, quase no sentido de rosa-dos-ventos. Sem os signos toponímicos mencionados seria impossível a existência do grupo como tal, não haveria a menor possibilidade de ele se identificar, de se localizar e de seus membros se orientarem no espaço. O  aspecto proxêmico, a territorialidade, é importante até mesmo nos agrupamentos de animais superiores. Que dizer de agrupamentos humanos fixos, e de comunidades!

Vejamos agora a comunidade do quilombo dos Palmares. Trata-se do mais famoso quilombo formado no Brasil, em toda sua história, sendo por isso mesmo o mais estudado e comentado. No entanto, tudo tem que se basear nos parcos relatos que os cronistas da época nos legaram. Pela composição demográfica (a), essa comunidade deve ter desenvolvido um pidgin e, ulteriormente, até mesmo um crioulo6.

Como não temos praticamente nenhuma referência à linguagem do quilombo dos Palmares, resta-nos investigar a comunidade do ponto de vista demográfico (a) e topográfico bem como sua "arquitetura" ou ambiente construído (b) que, de resto, também integram L, como já foi sugerido. Dadas as íntimas relações existentes entre L e C, talvez se possam tirar algumas ilações lingüísticas a partir de (a) e (b), o que não farei aqui (cf. COUTO 1993b). A composição demográfica de Palmares era a mais variada possível. Constituía-se basicamente de escravos fugidos do cativeiro, muitos de origem bantu, outros da costa da Guiné. Mas, havia também mulatos ou crioulos. É possível que houvesse até mesmo brancos, pois os palmarinos aprisionavam gente para ajudar a construir o quilombo. O fato é que podem ter constituído uma comunidade de 16 a 20 mil pessoas e talvez até mais. Essa comunidade existiu mais ou menos de 1630 a 1697.

Os documentos da época descrevem a composição demográfica, a topografia, a "arquitetura", a economia e até mesmo alguns hábitos dos habitantes de Palmares. No que tange à língua, no entanto, são inteiramente silentes. Até parece que a questão era tabu, pois tinham medo de que o quilombo se tornasse um estado negro independente à semelhança do Haiti. Segundo Nina Rodrigues, no período holandês o componente proxêmico da comunidade compreendia uma rua de uma braça de largura e meia milha de comprimento, no sentido leste-oeste. Havia 220 casas, com uma igreja no centro, 4 forjas e uma grande casa de conselho. Para comunicação com o exterior, havia 4 portas, uma vez que o território era cercado com estrepes, confinando com um alagadiço de um lado e árvores derrubadas do outro lado.

O que acabamos de ver era apenas o Palmares Grande. Havia outros, distribuídos por 60 léguas ao longo da terra das Barrigas, na parte superior do S. Francisco, quase de norte a sul, até o sertão de Santo Agostinho. O fato é que havia o "mocambo do Zambi", a 16 léguas de Porto Calvo; ao norte deste, a 5 léguas, ficava Arutirene; a leste destes ficavam dois mocambos chamados das Tabocas; a 14 léguas deles, o de Dambruganga, ao norte do qual ficava a "cerca" da Sucupira. Mais ao norte ficava a "cerca real" chamada Macaco e o mocambo Osengá, a "cerca" de Serinhaém, a do Amaro, além do Palmares de Antalaquituxe,  irmão de Zambi.

No que tange à organização social e política, eram governados por um rei e seus auxiliares. As questões comuns eram decididas na "Casa do Conselho". Quanto à economia, praticavam uma agricultura rudimentar mesmo para os padrões da época. Além disso, trocavam seus produtos por artigos industriais, armas e munições com a vizinhança. O objetivo maior da comunidade palmarina era, além da própria subsistência, a defesa da própria liberdade contra as autoridades portuguesas que queriam recapturar todos seus membros e reintegrá-los na escravidão. Por isso havia punição com pena de morte a quem traísse essa causa, pena que se aplicava também ao homicídio, ao adultério e ao roubo. Enfim, a comunidade dos Palmares teve tempo para se consolidar, 67 anos, tendo visto uma seqüência de três gerações, tempo mais do que suficiente para a formação de um pidgin e seu desenvolvimento em um crioulo. No entanto, como não existe quase nada a respeito de como os palmarinos se comunicavam entre si, temos que nos contentar com os aspectos proxêmicos e outros que os cronistas nos legaram.

Se forem verdadeiras as relações entre L e C comentadas acima, não resta dúvida de que em Palmares deve ter existido uma língua própria, diferente das línguas africanas e do português, ou seja, uma língua mista, um crioulo. Os parcos itens lexicais (antropônimos, topônimos e alguns nomes comuns) de que dispomos levam a isso. Eis alguns antropônimos: "Ganga Zumba" (=senhor grande), "Zambi" (=deus da guerra), "Osenga", "Andalaquituxe" (irmão de Zambi), "Zona" (irmão do rei), "Lucrécia" ("uma negra coxa"), "Ganga Muisa" ("mestre de campo da gente de Angola"), "Matias Dambi", "Amaro", etc. Quanto aos topônimos, temos os já mencionados acima, além de outros de que temos registros. Há também registro de alguns parcos substantivos comuns, como "mondé" (=armadilha para caça"), "cerca" (mocambo, subcomunidade fortificada dentro da comunidade de Palmares), "roça" (local onde se cultivam plantas comestíveis) e "mocambo" (cf. "cerca"), "pacova", "pindoba" e "jacu". Em suma, é muito pouca coisa para se reconstruir a língua usada em Palmares. Por isso, as informações proxêmicas, sobre o uso social do espaço são de grande auxílio para a investigação da língua deste comunidade. Elas nos dizem que as bases para a língua existiam. A questão que se põe é: Como era essa língua? Em COUTO (1993b) eu tentei uma reconstrução precária dela, de que as observações supra são uma amostra. Muita coisa fica ainda por fazer.

Embora meu objetivo neste ensaio seja explorar o componente proxêmico de L, valeria a pena salientar que outros aspectos de C também são importantes do seu (L) ponto de vista. A antroponímia é uma delas. Partindo dos componentes de C vistos acima, ela se situa em (a), a população. Com efeito, os nomes dos membros de C são fundamentais para sua identificação, tanto por si mesma quanto por forâneos. Outrossim, as pessoas do discurso também parecem pertencer à parte de L localizada em (a) pois, como sabemos, elas designam "a pessoa que fala" (eu) e a "pessoa com quem se fala" (tu). Mas, sobre isso não temos nada de Palmares, embora o assunto em si mereça uma investigação específica e aprofundada. 



3. Espaço e linguagem

Pelo que vimos até aqui deve ter ficado bastante claro o quanto o espaço é importante para a linguagem. Com efeito, vimos que ele é um dos pré-requisitos para a existência de uma comunidade (b), sendo os outros dois a população (a) e os interesses comuns (c). Vimos também que L se situa em (c), ou seja, os interesses comuns, embora se manifeste também em (a) e (b). Após a análise dos aspectos proxêmicos de duas comunidades concretas, parece ter ficado patente que o espaço é parte indissociável de L, sobretudo se entendermos L como o conjunto universo de todas as linguagens ou códigos produzidos e usados por essa comunidade (cf. COUTO 1981). Toda comunidade tem que ter uma referência territorial. Mesmo os povos que passaram por uma diáspora sempre se lembram da terra original, como os hebreus. Os únicos que talvez não se lembrem mais de seu território original sejam os ciganos. Entretanto, hoje sabemos que provêm de uma região do centro-norte da India. O território é, portanto, não apenas a base física sobre que se assenta a comunidade. Pelo contrário, várias de suas manifestações passam a ter valor simbólico também, ou seja, sígnico, comunicativo, que permite a interação entre os membros da comunidade.

Dado o valor que o espaço tem para C e, conseqüentemente, para L, gostaria de aprofundar um pouco mais as relações que ele mantém com L, inclusive com a língua, diante do que já vimos até aqui. Falando dos aspectos étnicos de C Joshua Fishman afirma que "entre os componentes da etnicidade experienciada que mais revelam a tensão existente entre as dimensões da paternidade e do patrimônio estão a língua e o território. Ambos são geralmente interpretados como dados por Deus". Logo em seguida afirma o autor que existem "íntimas relações entre terra e língua entre os iroqueses" (FISHMAN 1977: 48)7. Aliás, para os estudiosos da etnicidade, o espaço é de importância fundamental, como se pode ver também em WILLIAMS (1979), freqüentemente sob o rótulo de ecologia.

Antes de mais nada é necessário distinguir, no aspecto espacial de uma comunidade, entre ambiente natural e ambiente social, conforme a distinção seguida por SAPIR (1969). O primeiro é o próprio território sobre o qual a comunidade se assenta, inclusive suas adjacências, com todos os seus acidentes e manifestações. Ainda de acordo com SAPIR (1969), nem todos os acidentes e seres encontráveis no ambiente natural de uma comunidade recebem uma designação, mas apenas aqueles que representam algum tipo de interesse (tanto positivo quanto negativo) para sua população, o que vem reforçar a tese de que (a) faz parte de L. Com efeito, apenas aqueles acidentes e seres do ambiente físico que medeiam a interação dos membros de C recebem um nome, o que de certo modo é até tautológico. Como já vimos, alguns dos acidentes são estudados pela toponímia, ao passo que outros são estudados pela zoonímia, a fitonímia, a antroponímia, etc.

O ambiente social, por seu turno, é tudo que os membros da comunidade construíram, é a parte artificial de (a). O semioticista norte-americano Donald Preziosi propôs as expressões "ambiente construído", "estrutura ambiental", "forma construída" e "arquitetura" para designá-lo. Esse autor defende a tese de que o ambiente construído de uma comunidade está sujeito aos mesmos princípios articuladores que a língua, uma vez que os dois fazem parte do mesmo processo cognitivo dos indivíduos que constituem a comunidade em questão (PREZIOSI 1976). Umberto Eco também fala em "arquitetura", embora em um sentido mais próximo do que se atribui tradicionalmente a essa palavra. De qualquer forma, não se distancia demasiadamente do sentido atribuído a ela por Preziosi (ECO 1974). Como se vê, o caráter de linguagem desse componente de (a) é inegável, pois ele resulta do trabalho, da intervenção dos membros de C no ambiente natural. Trata-se, portanto, de fenômenos de natureza cultural. E cultura é linguagem, como já vimos.

Como deve ter ficado implícito quando falei do ambiente da família mineira e da comunidade de Palmares, não é só o ambiente construído que interessa à caracterização proxêmica de C. Aspectos do ambiente natural também podem adquirir valor semiótico. Para dar apenas um exemplo, relembremos o "Oi d'Água". Trata-se de uma aparentemente insignificante fonte que dá início ao "Nosso Corguinho". No entanto, para as crianças da mini-comunidade da fazenda mineira em tela, ela tem não apenas valor de uso (suprimento de água potável) mas também o valor de troca social de ser um ponto de encontro para brincadeiras. Conseqüentemente, é um ponto de referência para a interação infantil, é um dos meios de as crianças se comunicarem. O mesmo se poderia dizer de todos os outros acidentes nomeados pelos membros da comunidade (cf. COUTO 1983: 118-120) para mais detalhes!).

No que tange ao ambiente construído, ele é por definição semiótico, social, portanto, parte de L. No caso da mini-comunidade da família mineira, mencionei acima a "casa", o "curral", o "chiqueiro", o "paiol" e o "quintal". Poderia acrescentar o "terreiro da sala", o "terreiro da cozinha", a "sala", a "cozinha", os "quartos", etc. Por fim, em cada um dos cômodos da casa há a mobília, espacialmente disposta. Sua disposição não é nada aleatória: ela existe em função da interação entre os membros da família. A disposição dos móveis e outros objetos existe para a comunicação deles entre si. Por exemplo, até a mesa de refeições tem uma posição costumeiramente tomada pelo pai, outra pela mãe. A dos filhos pode variar muito, embora mesmo ela tenda a se fixar. Freqüentemente isso reflete a hierarquia de poder no seio da família.

O mesmo que foi dito até aqui sobre a mini-comunidade mineira poderia ser dito de Palmares, embora nesse caso tenhamos mais referências sobre o ambiente construído do que sobre o ambiente natural. Os nomes de acidentes que chegaram até nós são bastante escassos. Não obstante isso, os poucos cujos nomes os cronistas da época nos legaram (como o "rio Cachingi") têm função semelhante à função dos acidentes da mini-comunidade, não sendo necessário entrar em detalhes sobre eles.



4. Conclusão

Em conclusão, podemos afirmar que as relações entre o espaço e L de determinada comunidade se manifestam de diversas maneiras. Em primeiro lugar, temos o ambiente construído que, por si só já é fenômeno de comunicação. A disposição espacial dos objetos, a localização de determinada parte das construções, dos móveis, enfim, nada está em determinado lugar ou em determinada disposição casualmente. À mesa, por exemplo, a mulher ocupa a cadeira mais próxima do fogão de lenha, localmente chamado de "fornaia" (fornalha), porque tem que servir a família. O pai ocupa a cabeceira por ser o pater familias. As posições restantes são distribuídas pelos filhos e empregados ou agregados, quando os há.



Em segundo lugar, o ambiente natural - que existe independentemente dos indivíduos que compõem a população da comunidade - pode assumir funções de referência, entre outras. Por exemplo, a "Arvinha" é um lugar bastante apreciado pelas crianças para brincar. Além do mais, é lá que um menino das redondezas aparece e chama por elas. Mas, a relação entre os acidentes naturais e L não se restringe a isso. No caso específico da língua, eles recebem uma denominação por representarem algum tipo de interesse, como disse SAPIR (1969), com o que enriquecem o léxico da língua da comunidade. O primeiro item lexical toponímico que certamente surge ao emergir uma comunidade é o nome da própria comunidade, como "Quilombo dos Palmares" e "Fazenda do Zé do Artino", para ater-me apenas aos dois exemplos analisados acima. A seguir, vêm nomes mais específicos, tais como as subdivisões de (b). É o que ocorre com toda a micro-toponímia vista acima. Aliás, a maioria dos objetos do ambiente construído   também recebem nome, como "casa", "paiol", "fornaia", etc.

Em terceiro lugar, ainda no que tange ao léxico da língua, há uma classe de palavras que são eminentemente proxêmicas. Trata-se dos dêiticos espaciais ("aqui", "aí", "ali", "lá", "acolá", "além", etc.), embora haja-os também temporais ("agora", "ontem", etc.) e modais ou nocionais ("assim", "como", etc.).

Por último, gostaria de salientar mais uma vez que Umberto Eco incluiu na linguagem proxêmica a arquitetura, no sentido de paisagem urbana, de urbanismo (ECO 1974: 235-240). Eu acrescentei a toponímia, no caso a micro-toponímia (COUTO 1983: 118-120), a zoonímia, a fitonímia, a hidronímia e a antroponímia, além dos dêiticos espaciais, entre outras. O fato é que em C não se pode desvincular L do espaço, do território. Por um lado, Linguagem e comunidade se relacionam como parte e todo. Por outro lado, comunidade se relaciona com território e população, também de todo para partes. Além disso, linguagem se vincula a território e população de um modo que parece de parte para parte de um mesmo todo. Conclui-se, portanto, que, em uma comunidade, tudo se relaciona, de um modo ou de outro, e que L e C estão inextricavelmente ligados entre si. A tal ponto que até a parte mais estática e natural de C, o território, também pode funcionar como linguagem, ter função semiótica, como disse Donald Preziosi. No entanto, devo reiterar o que disse na introdução, ou seja, que todas as idéias apresentadas aqui só puderam ser percebidas porque têm a apoiá-las a tese de que a língua em especial e a Linguagem em geral são primordialmente um instrumento de comunicação e só secundariamente um meio de expressão do pensamento e das outras funções que JAKOBSON (1969) discutiu.



Notas

1. Este ensaio emergiu de um amplo projeto que venho desenvolvendo desde 1988 sobre as relações entre linguagem e comunidade, sobretudo na costa ocidental africana. O objetivo é tentar descobrir algum indício que permita recuperar alguma coisa do crioulo português que aí se formou ao longo dos séculos XV, XVI e XVII (cf. COUTO 1989, 1990, 1992, 1993 e no prelo). Como se verá, o ensaio combina semiótica (COUTO 1983) e crioulística.

2. Para uma lista bastante ampla das linguagens que podem compor a L de uma comunidade, cf. ECO (1974: 392-408). Cf. também BARTHES (1971) e LEVI-STRAUSS (1970).

3. RECTOR & TRINTA (1965), além de serem um amplo apanhado da mímica brasileira, também definem os conceitos de "proxêmica" (p. 58) e "cinésica" (p. 56-58), dentre outras linguagens.

4. Thomas A. Sebeok vem estudando o comportamento animal, relacionado com o comportamento humano, através de uma disciplina cujo nome foi cunhado por ele como zoo-semiótica. Como se vê, a zoo-semiótica é o equivalente moderno da etologia (SEBEOK 1975, 1978, ECO 1974: 235-240 e RECTOR & TRINTA 1985: 50-63).

5. Em COUTO (1983: 118) chamei isso de micro-toponímia.

6. Para os conceitos de "pidgin" e "crioulo", cf. TARALLO & ALKMIN (1987) e COUTO (1996).

7. Sobre linguagem e território entre os iroqueses, cf. também ENGELS (1984: 100-101).



Referências

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[Este texto foi escrito há mais de 20 anos atrás – estamos em 2020 – mas acho que vale a pena colocá-lo à disposição de possíveis interessados devido à ênfase que dá ao papel do espaço na existência e funcionamento da linguagem]